Essa frase estava no editorial de um grande jornal brasileiro no ano de 2003. À primeira vista, parece estar adequada aos padrões cultos da língua portuguesa, não é mesmo?
Porém não está, pois o verbo "faltar", quando usado no sentido de "ser indispensável" ou "ser necessário", exige a preposição "a" diante do elemento a que(m) é indispensável ou necessário praticar a ação, que, na frase apresentada, é "o governo".
Sintaticamente, então, temos "faltar" sendo verbo transitivo indireto, "governo", complemento do verbo faltar e "definir se quer ou não proibir o comércio de armas", sujeito de "faltar". A frase, então, deveria estar assim estruturada:
Falta ao governo definir se quer ou não proibir o comércio de armas.
Quando o elemento a que(m) é indispensável ou necessário praticar a ação for representado por um pronome, usam-se os seguintes: mim, ti, ele, ela, você, nós, vós, eles, elas ou vocês, todos antecedidos da preposição a, ou me, te, lhe, nos, vos, lhes, sem a preposição.
Veja outros exemplos:
Observe que permanece no singular o verbo posterior ao elemento a que(m) é fundamental ou necessário praticar a ação, já que este elemento não exerce a função de sujeito do verbo, e sim a de complemento de "faltar".
O mesmo ocorre com os verbos "bastar" e "restar". "Bastar", cujo significado é "ser tanto quanto o necessário", e "restar", cujo significado é "ser indispensável", também exigem a preposição "a"; o verbo posterior ao elemento a que(m) é fundamental ou necessário praticar a ação também deve ser usado no singular.
Sintaticamente a análise é a mesma: os verbos "bastar" e "restar" são transitivos indiretos, o elemento a que(m) é fundamental ou necessário praticar a ação é objeto indireto e a ação, representada pelo outro verbo, é o sujeito de "restar" ou de "bastar".
Veja outra frase do mesmo jornal, no mesmo dia: "Bastaria a polícia ter adotado os procedimentos elementares de investigação". Novamente inadequada. A frase deveria estar assim:
Quer mais exemplos?
Fonte: UOL Vestibular
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